Seminário debate novos desafios de gestores municipais para ambiente de negócios

Jorge Khoury
Maurício Maron

O ano de 2021 guarda desafios ainda maiores frente ao cenário que se instalou em 2020 com a pandemia do novo coronavírus. Os gestores municipais, sejam prefeitos eleitos ou reeleitos, precisarão direcionar suas ações da área econômica para um processo de retomada e recuperação. E, nesse sentido, um ambiente de negócios favorável nos municípios pode fazer a diferença.

Esse foi o debate fomentado pelo Sebrae com a realização da quarta edição do Empreender Bahia. Por conta da pandemia, o evento foi realizado em formato online. Na abertura, o superintendente do Sebrae Bahia, Jorge Khoury, destacou a importância de trabalhar em conjunto com os entes locais de cada município, tanto na área pública, quanto na área empresarial, tendo como foco o desenvolvimento econômico sustentável.

Khoury lembrou a representatividade dos micro e pequenos negócios para as economias dos municípios, reforçando a necessidade de buscar ambientes cada vez mais favoráveis ao empreendedorismo. “Temos que fazer com que nossas cidades possam empreender. Esse envolvimento entre o setor empresarial e o poder público é fundamental, pois, juntos, poderemos fazer muito mais”, disse o superintendente.

O diretor técnico do Sebrae Nacional, Bruno Quick, disse que a parceria entre a pequena empresa e o município é o caminho para o desenvolvimento do Brasil. “O país precisa de ações como essa. É a partir dos municípios que os caminhos são construídos. Por isso, é necessário olhar para as cidades, dialogar com a população local. É assim que o Brasil vai revelar o seu desenvolvimento”, apontou.

Cidade Empreendedora

Uma das iniciativas do Sebrae focadas nesse apoio aos municípios para a criação de ambientes de negócio mais favoráveis é o Cidade Empreendedora. Desde 2018, o programa atua sobre eixos temáticos, que incluem desburocratização, compras públicas, gestão municipal e educação empreendedora.

O município de Andaraí, na Chapada Diamantina, é uma das 49 cidades que estão sendo acompanhadas pelo programa em 2020. As ações estão sendo realizadas em formato online. O prefeito de Andaraí, João Lúcio, participou de um painel no Empreender Bahia, para destacar como o um ambiente favorável a abertura de novos negócios favorece os municípios.

O prefeito, que conclui o mandato este ano, afirmou que houve um movimento grande de formalização de empreendedores informais na cidade. “Isso traz retorno para o município, e forma de tributos, e também permite que os empreendedores participem de certames públicos, para a oferta de produtos e serviços para a prefeitura. Eles também podem vender para municípios vizinhos, já que integramos um consórcio intermunicipal”, disse, referindo-se ao Consórcio Chapada Forte, que reúne 15 municípios da região.

O cooperativismo entre os municípios é justamente um dos eixos trabalhados pelo programa Cidade Empreendedora, conforme destacou Maurício Tedeschi, da Unidade de Desenvolvimento Territorial do Sebrae Nacional. “É possível identificar oportunidades e trabalhar alguns temas por meio de consórcios”, pontuou.

Gestão para mudança

Gerente da Unidade de Políticas Públicas do Sebrae Nacional, Silas Santiago enfatizou que é fundamental que os prefeitos tenham foco na agenda de desenvolvimento econômico, estabelecendo parcerias com lideranças locais, para descobrir e fortalecer vocações dos municípios.

Silas destacou três eixos do programa Cidade Empreendedora, para reiterar a importância do desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam o ambiente de negócios. Um deles é o eixo de desburocratização. “O município tem a tarefa de fazer o empreendedorismo acontecer de forma mais rápida. Reduzir a burocracia pavimenta caminho para a formalização, o que traz também retorno ao município”.

O gerente falou também sobre a Sala do Empreendedor, que é um espaço dedicado à centralização de informações e serviços para quem já tem um negócio ou para quem deseja abrir um. Por fim, ele das compras governamentais como indutor de um ciclo virtuoso do desenvolvimento. “O poder de compra do Estado é o novo paradigma dentro da temática compras públicas, que contribuem para o equilíbrio fiscal, aumentando a capacidade de investimento do município”.

O executivo do Grupo Amana-Key, Oscar Motomura, que é especialista em gestão, estratégia e liderança, falou da importância de os gestores entenderem as necessidades da população, lembrando que as demandas mudam de acordo com o contexto. “Em 2020, tivemos muitas mudanças e a velocidade dessas mudanças exige planos diários. Temos que ter criatividade instantânea, associada a um improviso positivo. Temos que ser rápidos, porque receitas do passado não vão funcionar”.

Motomura ressaltou também a necessidade de aproximar o cidadão da gestão pública. “Os cidadãos precisam participar da gestão. Precisamos de cidadãos se posicionando como servidores, ao lado dos servidores propriamente ditos. É uma força conjunta, com todos ajudando a melhorar, com foco sempre no bem-estar comum”.

O especialista ressaltou também que os líderes precisam desenvolver competências em gestão de mudança, mas lembrou que existem pontos que se referem a um aprimoramento, e não a algo novo. “A única certeza é a mudança, mas é preciso pensar também sobre o que não muda. Projetos de gestões anteriores que estão funcionando precisam ser aprimorados. Por outro lado, o gestor precisa saber se aquela estrutura que ele recebe está de acordo com as demandas do município”.

Aos prefeitos reeleitos, Motomura aconselhou: “Não se acomodem sobre os louros da gestão anterior. Simulem como se estivessem sendo eleito pela primeira vez. São os 100 primeiros dias que definem o tom da gestão e uma característica do ano de 2021 em diante será a necessidade de se fazer parcerias. Vivemos agora o mundo da cooperação e não mais da competição. Nesse contexto, o prefeito precisa entender o seu papel enquanto agente catalisador que faz com que a sociedade se torne cada vez mais autônoma e tome conta de si”, concluiu.